quarta-feira, 28 de outubro de 2015

No coherent proposition

Você já refletiu profundamente sobre o poder que a acumulação de recursos pelas gerações anteriores da sua família tem sobre a sua vida? Como ter ou não "base" financeira define que tipo de vida você vai levar, quais dificuldades você vai enfrentar e o tamanho delas?

Eu estava refletindo sobre isso agora porque eu escolhi ler um texto de 38 páginas em inglês em que um jusnaturalista critica os conceitos filosóficos de um utilitarista liberal. Pensei porque meu professor - que teve a oportunidade de estudar em um dos melhores colégios do Brasil, depois na melhor universidade (cursando dois cursos ao mesmo tempo, ou seja, com um imenso suporte financeiro) e depois em Harvard, Yale e no King's College - propôs esse texto num programa de um curso de uma universidade pública que teoricamente deveria congregar pessoas que chegariam à universidade sem nem saber o que é filosofia e, com certeza, não teriam tempo pra ler textos assim porque tem que realizar tarefas reprodutivas e produtivas (duplas, triplas jornadas).

Então, a quem serve essa universidade? Onde estão os paulistas que sustentam a universidade de São Paulo por meio do pagamento de um imposto estadual, o ICMS, imposto regressivo que atinge com mais força os pobres, por não pensar em alíquotas diferentes para bens que serão consumidos por pessoas pertencentes à faixas de renda diferentes?

A Universidade serve aqueles que tem oportunidade de estudar nos melhores colégios, quem teve oportunidade em virtude da acumulação de recursos pelas gerações anteriores de suas famílias. No Brasil, isso tem cor, a branca, a classe daqueles que tinham mais recursos e escravizaram pessoas de pele negra e cuja herança se reflete e gera efeitos 130 anos depois da abolição.

Os paulistas pobres que sustentam a universidade de São Paulo estão em universidades privadas, enriquecendo donos de universidades privadas, gente que tem como objetivo o lucro, porque essa é a lógica das empresas que são as universidades privadas. Sairão dessas universidades para "o mercado", local onde sua força produtiva será explorada por outras pessoas, com o mesmo objetivo de lucro. E o dono dessa empresa tem cor, a branca. A herança define a vida das pessoas. É lógico que essa afirmação é superficial e ignora nuances e os "exemplos de superação" (leia-se as exceções que confirmam a regra), mas é a regra, é o conceito e é o que meu professor ignora porque não vivenciou as dificuldades que são inerentes às pessoas que não pertencem ao mesmo círculo social dele embora devessem pertencer, se fosse respeitado o conceito de igualdade material que pra ele é tão caro.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

manhã

Hoje acordei com saudade do meu piercing e do meu alargador, pensando: "hoje eu não vou, hoje não!" Fui, sem música dessa vez, acho que eu tô muito preso dentro dos meus fones de ouvido. Fora que eu também não aguento mais as músicas que tão lá. Por que eu sempre preciso de músicas novas? Acho que tem a ver com a baixa qualidade do som, ainda mais quando tá na descida. Só o barulho do vento, num dá pra ouvir nada. Preciso ver os freios, sábado de manhãzinha vão ser 65 km, nunca pedalei tanto de uma vez. Tô preocupado com o pneu também; e se a câmara furar? Não queria levar nada, mas acho que uma câmara reserva vai ser uma boa. Duro vai ser achar, pra esse pneu 700 só acha nas lojas chiques da zona sul. Mas e agora hein? Saindo daqui vou ali no brás atrás de espuma pras cadeiras da sala. Já vai fazer ano que eu tô enrolando pra trocar o assento. Pelo menos eu e o Maurício cortamos as madeiras, também já tem o tecido. Falta aquele grampeador de pressão (custa $80) e descobrir como eu vou conseguir segurar aqueles parafusos pequeninhos na cadeira. Minha mãe falou que traz o grampeador lá de Praia Brava dia 27. Ela também mandou a previsão do nosso signo. Tá dizendo que 2º semestre tem boa situação econômica e é pra não se rebelar. Melhor deixar pra lá o piercing e o alargador. Também num dá pra doar sangue com piercing, aí é ruim.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Dói desconstruir conceitos incutidos em mentes vazias e abertas

As vezes dá dó desse blog, fica meses jogado na internet, desatualizado e parece que todas as coisas que eu escrevi são inúteis, sem sentido. Mas eu sei que não são e por isso, volto aqui. Esse blog é resultado de um fluxo de pensamentos que geralmente me acometem de madrugada (agora são 02h56) e não tem organização, coesão ou coerência. Isso ceifaria a essência dos meus pensamentos, o que seria uma mutilação pra mim.

Hoje eu tava vendo House of Cards e a cena em que a Claire e o gay que foi preso na Rússia discutem os casamentos deles me fez pensar, dado o contexto de relacionamento não-monogâmico do casal protagonista. Na verdade, foi um salto e não tem muito a ver com a conversa em si, que se relaciona mais à busca de um algo mais, uma experiência fora da união com aquela pessoa, porque aquilo é, teoricamente, pouco.

Só pra amarrar meu raciocínio, meu objetivo é modificar minha visão (se é que ela existe) em relação à monogamia. Premissa 1: É uma construção social, não um fato autoevidente de todo relacionamento "comum", categoria na qual inconscientemente encaixo meu relacionamento. E quando eu digo construção social, eu quero dizer que nem sempre foi assim e provavelmente a sociedade vai se modificar para não ser mais assim, a proibição da poligamia hoje existente vai cair. Com certeza e os relacionamentos não-monogâmicos vão ter reconhecimento da maioria das pessoas e então do Estado e do direito. É importante colocar também que a monogamia enquanto restrição do sexo a apenas uma pessoa encontra origens na concentração da propriedade em pequenos grupos familiares, raciocínio que com certeza eu vou aprimorar quando ler o livro do Engels "sobre a origem da propriedade privada, do estado e da família" ou algo assim

 Premissa 2: Eu quero me libertar da adequação inquestionada à monogamia, mas eu não quero me libertar de meu relacionamento monogâmico. Isso significa articular explicitamente um pacto de monogamia com minha companheira heteroafetiva? (hahaha primeira vez que eu vejo essa palavra) Talvez isso não seja necessário, talvez a desconstrução da monogamia seja apenas parte da desconstrução e construção de conceitos que em maior ou menor medida influencia a vida de todas nós.

O fato é que não foi uma escolha que eu fiz de viver um relacionamento assim, é o resultado de pressões existentes sobre nós dois que nos influenciam a tomar decisões e se apegar a estas decisões, ou mudar de ideia. E minha ideia é que eu quero ter consciência dos motivos que norteiam minhas atitudes, questioná-los como válidos ou não e tomar uma nova decisão de continuar ou parar. Assim também é a decisão de se comprometer a um casamento, a ter filhos, enfim, constituir família, no sentido institucional. Não tem como se imiscuir do meio em que nasci, minha presença aqui serve um propósito de aprendizado e evolução, não é sem sentido, eu acredito nisso como um princípio que rege a minha existência. Questionar o meu ambiente e, em alguma medida, modificá-lo, é parte disso.